O desembarque japonês na RB Capital

A crise econômica dos últimos dois anos fez grandes empresas financeiras mudarem seus planos no Brasil.
O caso mais notório foi o do Citibank. Depois de um século por aqui, o banco americano jogou a toalha do varejo e vendeu sua rede de agências e clientes para o Itaú Unibanco, em outubro do ano passado. Seguiu o exemplo do HSBC Brasil, vendido para o Bradesco em agosto de 2015.

Como explicar então que a holding financeira japonesa Orix tenha desembolsado US$ 100 milhões, segundo estimativas de mercado, para comprar 68% da RB Capital, duas semanas antes do início de 2017?

“Não temos medo de crises, pois pensamos no longo prazo”, diz Hideto Hishitani, CEO da Orix nos Estados Unidos e que será o responsável pela operação nas Américas. “A volatilidade de um ano para o outro é inerente aos riscos do negócio, principalmente no setor imobiliário, onde a maturação dos projetos é lenta.”

Nascida a partir de uma cisão da Rio Bravo – criada em 1999 pelo ex presidente do Banco Central, Gustavo Franco – , a RB Capital é líder de mercado na criação de produtos financeiros de base imobiliária. Desde seu surgimento como empresa independente, em 2008, ela levantou R$ 23,3 bilhões com a emissão de títulos lastreados em imóveis ou na renda de aluguéis. Hoje, ela também administra RS 2,7 bilhões em fundos, imobiliários, de recebíveis e fundos de participação. “Todos esses setores nos interessam”, diz Nishitani.

Para uma empresa como a Orix, com cerca de US$ 4 0 0 bilhões em ativos, a aquisição representa uma aposta no mercado brasileiro e, em um segundo momento, na América Latina.

Fundada em Tóquio em 1964, como uma companhia de leasing controlada pelos principais bancos japoneses, a Orix hoje opera em 37 países e faz um pouco de tudo, de bancos a seguros, de gestão de recursos à construção e operação de habitações para idosos. “Além de capital, a Orix nos t r a r á relacionamentos com investidores estratégicos, como fundo de pensão e fundos soberanos interessados no mercado imobiliário brasileiro”, diz Marcelo Michaluá, um dos sócios da RB Capital que permanecerá como executivo sob o novo controlador. Ele diz estar otimista.

“Os bancos estatais concederam muitos empréstimos imobiliários no governo anterior, e agora t êm menos capacidade de expandir essas carteiras, o que abre espaço para a participação do mercado de capitais, que é complementar ao bancário”, afirma.

A aquisição da Orix indica uma mudança de humor. Após sofrer diversos solavancos devido ao desaquecimento da economia, o setor imobiliário brasileiro volta a atrair os investidores internacionais que operam pensando em prazos mais longos. Os segmentos considerados mais promissores são os que estiveram sob pressão ao longo dos últimos trimestres, como shopping centers e escritórios de alto padrão. Os japoneses não foram os únicos a apostar no setor. Em janeiro, a Canadian Pension Plan Investment Board (CPPIB), que gerencia os ativos do sistema previdenciário estatal canadense, anunciou estudos para investir n o mercado brasileiro de lajes corporativas.

“Esperamos uma redução das taxas de vacância no longo prazo”, diz Rodolfo Spielmann, responsável pelo escritório da CPPIB na América Latina.  IstoÉ Dinheiro – 06/02/17